História do Autismo

Atualmente, a consenso no mundo cientista que o autismo, sempre esteve presente na nossa cultura. Simplesmente, hoje em dia, nós demos para ela um nome, se fala dela sem temor a ser estigmatizado.

Entretanto, só, após de sua descrição em 1943 por Leo Kanner nos Estados Unidos e Hans Asperger em 1944 na Áustria é que ela passou a ser considerada como um transtorno mental.

Antes disso o autismo era considerado um tipo de esquizofrenia ou confundida com a epilepsia e retardo mental.


Atualmente o termo autismo é muito inclusivo e é considerado como um conjunto de transtornos que afetam ao desenvolvimento.

A denominação atual do autismo é Transtornos do Espectro Autista [TEA], no Manual estatístico e prognóstico das Doenças Mentais [DSM-V].

Por outro lado, também é chamado de Transtornos Globais do Desenvolvimento [TGD] segundo a Classificação Internacional das Doenças [CID-10], oficialmente adotada pela constituição brasileira.

A “descoberta” do autismo por Leo kanner

A literatura psiquiátrica, narra que a palavra autismo é proveniente do grego “autos, que significa “eu mesmo”.

O termo foi usado pelo médico suíço Eugen Bleuler em 1912 para descrever o comportamento de algumas pessoas posteriormente diagnosticadas como esquizofrênicas, as quais eram desapegadas de tudo, exceto de seu mundo interno.

Logo após, Leo Kanner [1894-1981], pai do conhecimento sobre o autismo, utilizo aquela palavra no relatório de suas pesquisas.

Em seu artigo Distúrbios Autistas de Contato Afetivo, publicado em 1943, Kanner descreve 11 crianças diferentes entre si – todas nascidas nos anos 1930 – que, não obstante, acreditava terem muito em comum, pois compartilhavam o que ele denominava “autismo infantil”.

Kanner argumentava que essas crianças eram essencialmente diferentes dos esquizofrênicos por que eles não tinham alucinações ou ilusões, além disso, a esquizofrenia raramente aparecia no início da infância.

Desde aquela descrição, feita por Kanner em 1943, um número considerável de autistas foi diagnosticado como portador desse “tipo de esquizofrenia infantil” até mesmo nos anos 1970.

Principalmente, devido a que essa era a única categoria oficial da Associação Americana de Psiquiatria [AAP], que mencionava a palavra “autista”.

Antes de Kanner, a palavra “autista” referia-se a um sintoma e não a um síndrome ou distúrbio mental.

Kanner acreditava que seus pacientes tinham autismo desde o nascimento, ele se recusava a aceitar que o autismo era produto do isolamento da criança depois de uma atitude anterior participativa.

Este é o início de sua descrição…

Desde 1938 têm chamado a nossa atenção algumas crianças cujas condições diferem de forma marcante e tão específica de qualquer coisa até agora registrada. Que creio que cada caso merece, e eu espero que eventualmente receba, uma apreciação detalhada de suas fascinantes peculiaridades.

Todos os 11 pacientes descritos no relatório de Kanner tinham dificuldades de se relacionar social e linguisticamente com outras pessoas.

Condição que ele chamou de “solidão autista extrema”. Esta era para Kanner, a principal característica do autismo.

Além disso, a maioria das crianças tinha dificuldade para falar ou usava uma linguagem diferente – elas repetiam o que quer que ouvissem ou trocavam os pronomes, dizendo “você” quando deveriam usar “eu”.

Por outro lado, tinham memoria fantástica e obsessão pela repetição.

A maior parte deles era talentosa em uma ou duas atividades, como classificar animais ou memorizar endereços ou horários. Ele via essas similaridades onde outros, talvez, só tinham visto as diferenças.

Descrição dos pacientes de Kanner no seu relatório sobre o autismo

Seu primeiro paciente, nascido em 1933, chamava-se Donald Triplett.

Histotia do autismo, imagen de Donald Triplett o primeiro menino diagnosticado com autismo
Donald Triplett o primeiro menino diagnosticado com autismo, natural de Forest, Missisipi, USA / Acp

Ele tinha uma memória incrível já aos 12 meses e à medida que cresceu ficou ainda mais precoce – aos dos anos aprendeu a recitar o salmo 33. Com dos anos y meio era capaz de dizer o nome de todos os presidentes e vice-presidentes dos Estados Unidos.

Os pais de Donald Observaram que ele se sentia, mas feliz quando só, não fazia nem respondia perguntas e não mantinha diálogos.

Aos 4 anos, Donald fazia movimentos repetitivos com os dedos, balançava a cabeça de um lado para outro, sussurrava para si mesmo e organizava e girava objetos pelo chão.

Quando Kanner conheceu ele, então com 5 anos de idade, não conseguiu fazer contato com o menino.

De vez em quando, Donald usava a linguagem de maneira pragmática, mas apenas a mesma frase.

Ele era visivelmente inteligente, fazia cálculos matemáticos com facilidade, mas de forma um tanto estranha. Se a mãe lhe perguntava: quanto é 10 menos 4? – Ele desenhava um hexágono.

Os casos de Frederick e Richard

Frederick, que tinha 6 anos quando Kanner o conheceu, também era retraído, mas muito diferente de Donald. Ele só emitia sons ininteligíveis, não demonstrava nenhuma consciência de que à sua volta havia gente para brincar com ele.

Outro paciente, Richard de três anos, era presumivelmente surdo. Como a maioria das outras 11 crianças. Richard era considerado mudo porque não falava nem respondia a perguntas. E, como muitos dos outros, apresentou sinais de desenvolvimento cognitivo normal – ao menos era isso que seus pais afirmavam – até os 2 anos de idade. A mãe dele escreveu para Kanner que:

Parece que ele retrocedeu gradualmente em sua capacidade mental ao longo dos últimos anos. Achamos isso porque ele não revelava o que havia em sua mente, embora parecesse haver alguma coisa lá.

Agora que ele emite tantos sons, é desconcertante, pois ficou claro que não pode falar. Antes, ele dava a impressão de possuir uma sabedoria silenciosa.

O caso de Barbara, a primeira menina com autismo

Barbara, que tinha 8 anos quando chegou ao Johns Hopkins, dominava um vocabulário oral medíocre aos dos anos, mas era muito boa na soletração, na leitura e na escrita.

Ela parecia incapaz de compreender os princípios básicos das matemáticas, embora pudesse fazer cálculos de cabeça.

Barbara, lia maravilhosamente aos 11 anos, mas era incapaz de responder a algumas perguntas sobre o que ela lera.

Ela gostava de desenhar, porém seus desenhos eram estereotipados e não mostravam evidências de imaginação, diferindo significativamente do que uma criança de 8 anos geralmente desenha.

Como poderia ela e uma criança muda como Richard serem diagnosticados com o mesmo distúrbio?

Richard, um menino chamado Herbert e a garota Virginia eram mudos, mas oito outros articulavam as palavras com precisão. O problema era que não usavam a linguagem para expressar conteúdo.

Autismo e as observações de Kanner

Se Kanner, porém, houvesse visto apenas um desses pacientes, talvez não tivesse ficado tão interessado.

Mas aquela era outra história – 11 pacientes, oito meninos e três meninas, todos muito diferentes, alguns dominavam a linguagem verbal, outros eram completamente mudos – mas ainda assim todos eram social e linguisticamente deficientes.

O caso era certamente digno de registro.

Kanner via cada criança como um indivíduo único. Mas ainda assim reconhecia que todos pareciam ter algo em comum. Não era retardo mental, epilepsia ou qualquer doença neurológica óbvia; era outra coisa, algo que ainda não tinha nome.

Considerando quão diferentes eram aquelas crianças, somente um observador extraordinário como Kanner seria capaz de identificar as características que tinham em comum e enxergar essas diferenças que apresentavam como um todo coerente em vez de considerá-las meramente uma coleção de sintomas.

Características do “autismo infantil” de Kanner

Além do isolamento social, Kanner observou que todas as crianças apresentavam um “desejo ansiosamente obsessivo pela manutenção de semelhanças que ninguém além da própria criança podia perturbar”.

Eles detestavam mudanças na sua rotina, fosse na disposição dos móveis ou fosse uma variação no caminho que costumavam fazer.

Muitas ingeriam apenas uma variedade pequena de alimentos recusando-se a experimentar novos pratos ou sequer aceitar os mesmos alimentos preparados de uma forma diferente.

Também tinham problemas sensoriais. Eram extremamente sensíveis a sons como o fluxo da água da descarga nos vasos sanitários.

Finalmente todas as crianças pensavam de uma forma concreta.

Na verdade, não interessa quão inteligente alguém incluído no espectro do autismo possa ser, ele ou ela provavelmente terá dificuldade com o raciocínio abstrato ou simbólico.

Suas habilidades são visuais e concretas e não verbais e conceptuais. Podem fazer maravilhas com ó ábaco, más são incapaz de aplicar princípios matemáticos a uma situação da vida real.

A “descoberta” do autismo por Hans Asperger

Enquanto Kanner trabalhava arduamente para escrever seu famoso artigo de 1943, outra descrição do autismo sem relação com a dele surgiu na sua própria terra natal.

Hans Asperger, outro austríaco, examinou crianças autistas e uso o termo “autismo” para descrevê-las.

História do autismo; Imagen de Asperger, um dos descobridores do autismo.
Hans Asperger, é mais conhecido pelo síndrome que leva seu nome [síndrome de Asperger], um dos transtornos do espectro autista / Acp

Asperger, de quem vem o nome “distúrbio de Asperger” – um dos distúrbios do espectro do autismo -, viu algo nessas crianças que denominou “psicopatia autista na infância”. Ele as chamava “psicopatas autistas”.

Os dois psiquiatras nunca se conheceram. Asperger publicou na Alemanha, e Kanner, que o fez nos Estados Unidos.

Hans Asperger e suas observações sobre os “psicopatas autistas”

Asperger [1906-1980], nasceu em Viena e, como muitos psiquiatras da época e da atualidade, primeiro foi pediatra para depois tornar-se psiquiatra.

Ele, desde um início estava convencido de que o autismo era resultado de uma relação entre fatores biológicos e ambientais.

Sabe-se menos sobre a vida e personalidade de Asperger que sobre as de Kanner, mas o que sabemos é que Asperger envolveu-se na supervisão de grupos de acampamento de meninos, e alguns meninos que não interagiam despertaram seu interesse.

Descrição da psicopatia autista [autismo] segundo Hans Asperger

Em seu artigo de 1944, Psicopatia Autista na Infância, Asperger afirma que quatro crianças entre 6 e 11 anos de idade examinadas em sua clínica pareciam “ter acabado de cair na terra”.

E que, a pesar de serem extremamente inteligentes e se de expressarem com palavras, elas raramente faziam contato visual e eram discriminadas e intimidades na escola.

Algumas apresentavam pequenos distúrbios do movimento, tais como andar na ponta dos pés.

Finalmente, as habilidades dos pacientes de Asperger eram de natureza puramente intelectual.

Assim, por exemplo, Asperger descreveu um menino que amava tanto a química que gastava todo seu dinheiro com experiencias nessa ciência.

Outro que, recém-admitido numa faculdade, percebeu um erro nos cálculos de Isaac Newton.

E ainda um terceiro cujo fascínio pela construção e desmontagem de modelos de espaçonaves o tirara da vida social.

Asperger descreveu apenas quatro pacientes em seu famoso artigo sobre a “psicopatia autista”, todos os quais falavam. Dois eram capazes de realizar cálculos matemáticos complexos quando consideravelmente pequenos.

Entretanto devido aos problemas comportamentais que apresentavam, Asperger considerava difícil – si não impossível – fazer testes precisos de inteligência, com eles.

Por exemplo, Fritz, de 6 anos, por exemplo falava “como um adulto” e apresentava grande talento matemático, mas foi mandado para o hospital de Asperger depois da a escola tê-lo considerado “ineducável.

Não obstante, educadores, clínicos e a mídia atual apresentam o “distúrbio de Asperger” como uma forma “altamente funcional” de autismo.

Autismo, como um “Espectro Continuo de Deficiências”

A ideia do “espectro autista” foi validada por uma série de estudos conduzidos entre famílias por Lorna Wing e sir Michael Rutter, a maioria deles publicada no final dos anos 1970 e inícios dos ’80.

Esses artigos foram descritos com o que se chamou de “probantes autistas”, um tipo de carga genética do autismo em famílias que resultava na presença de variantes do autismo entre os parentes.

Alguns podem ser acometidos por sintomas graves, como a mudez, enquanto outros são solitários ou simplesmente introvertidos.

Autismo e sua classificação nos manuais psiquiátricos  DSM e CID

Classificação do autismo segundo o DSM

Lembremos que o autismo foi reconhecido oficialmente como doença mental pela Associação Americana de Psiquiatria [AAP], em 1980 na publicação do DSM-III, com o nome de Transtornos Invasivos do Desenvolvimento [TID].

Como um dado anedótico, nesse momento o Movimento Gay tinha uma grande vitória sobre a psiquiatria ao conseguir que tiraram o homossexualismo do DSM, pois antes de 1980 era considerada uma doença mental.

DSM-IV

Logo em 1994, na publicação do DSM-IV. O autismo foi considerado como um espectro denominado Transtornos do Espectro Autista [TEA] algumas vezes também chamados de Transtornos Generalizados do Desarrolho [TGD] e estas são:

  • Autismo clássico de Kanner.
  • Síndrome de Asperger.
  • Transtorno de Rett.
  • Distúrbios ou transtornos generalizados do desarrolho sem outra especificação [TGD-NE].
  • Transtorno desintegrativo infantil [CDD, por suas siglas em inglês].

De acordo com R. Grinker [2007] só a inclusão da síndrome de Asperger dentro do espectro autista, teve, como resultado o aumento dos casos do autismo em um 73%, o qual ajuda parcialmente a explicar aquele surto de “epidemia de autismo” nos anos 1990 na sociedade norte-americana.

Autismo e sua classificação no DSM-V, até à atualidade [2023]

Em maio de 2013, foi lançada a quinta versão do DSM, a qual trouxe algumas mudanças importantes, como; novos diagnósticos e alterações de nomes de doenças neurológicas que já existiam, nesta versão do DSM a síndrome de Rett foi excluída do espectro autista.

O diagnóstico da síndrome de Asperger [os mais funcionais dentro do espectro autista] foi eliminada e o novo termo medico agora é “Transtorno do Espectro Autista de nível 1, sem apresentar perdas intelectuais ou verbais”.

O DSM-V, divide o autismo [TEA] em três níveis de severidade:

  • O nível 1, o mais leve [síndrome de Asperger],
  • Nível 2, meio ou moderado,
  • E nível 3, considerado o mais severo [onde encaixa o autismo clássico de Kanner].

Embora muitas outras características do autismo viessem a ser introduzidas na literatura psiquiátrica moderna nas décadas que se seguiriam, a maioria das descrições de Kanner ainda é relevante na atualidade.

O qual evidência as habilidades de observação de L. Kanner. Isso é estranho, de acordo com a historiadora Chloe Silverman, uma vez que quase todas as descrições antigas de outros distúrbios mentais parecem pouco familiares y antiquadas hoje em dia.

Autismo e sua classificação na CIE-11

O autismo é um transtorno que foi reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um distúrbio mental em 1992, incluído na Classificação Internacional das Doenças e Problemas relacionados com a Saúde (CID-10).

No entanto, em maio de 2018, foi lançada a CID-11 em sua fase “Beta”, apresentada em junho de 2019 pela ONU aos países membros, com a expectativa de substituir gradualmente a CID-10 a partir de 2022.

Segundo o Instituto Inclusão Brasil, a CID-10 englobava vários diagnósticos dentro dos Transtornos Globais do Desenvolvimento [TGD] sob o código F84, incluindo Autismo Infantil, Autismo Atípico, Síndrome de Rett, Transtorno Desintegrativo da Infância, entre outros.

Na CID-11, o Transtorno do Espectro do Autismo [TEA] é identificado pelo código 6A02, substituindo o F84.0. As subdivisões agora estão relacionadas à presença ou ausência de Deficiência Intelectual e/ou comprometimento da linguagem funcional. As classificações incluem:

6A02.0 – TEA sem Deficiência Intelectual e com leve ou nenhum comprometimento da linguagem funcional.
6A02.1 – TEA com Deficiência Intelectual e com leve ou nenhum comprometimento da linguagem funcional.
6A02.2 – TEA sem Deficiência Intelectual e com linguagem funcional prejudicada.
6A02.3 – TEA com Deficiência Intelectual e linguagem funcional prejudicada.
6A02.5 – TEA com Deficiência Intelectual e ausência de linguagem funcional.
6A02.Y – Outro TEA especificado.
6A02.Z – TEA não especificado.
É relevante notar que o código “6A02.4 – TEA sem deficiência intelectual [DI] e com ausência de linguagem funcional” foi excluído da versão final da CID-11.

Essas subdivisões proporcionam uma compreensão mais abrangente da funcionalidade de indivíduos com TEA, o que é crucial para diagnósticos e intervenções precoces e eficazes no Transtorno do Espectro Autista [OMS, 2018].

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Referências

R. Richard Grinker, 2007. Unstrange Minds.

National Institute of Mental Healt. 2007. Guía para padres sobre el Trastorno del Espectro Autista [TEA].

Donald Grey Triplett: The firts boy diagnosed as autistic. acessada em 10/03/2017