Risperidona e autismo

Bom dia, Miguel, precisamos medicar seu filho!

A frase que sempre ouvi ao descrever o comportamento do meu filho com TEA em uma unidade médica, seja na Bolívia, Argentina ou no Brasil. Países que visitei em busca da melhora do meu filho.

… Pois bem, meu jovem príncipe Keithon tinha que ser medicado, mas medicá-lo com o quê?

A resposta, sempre foi, com a RISPERIDONA

É claro que até o momento não existe um remédio que cure ou melhore os principais sintomas do autismo.

Mas, em certos casos, como o comportamento agressivo ou auto lesivo pode ser medicado para acalmar aqueles sintomas frequentemente associados ao autismo. E assim, desta forma poder tirar melhor partido das suas terapias ou simplesmente ficar mais tranquilo em casa.

No entanto, o fato de usar uma droga que não foi originalmente criado para esse fim, levanta muitas dúvidas sobre sua eficácia, pior ainda, sabendo que tal medicamento causa Ginecomastia em crianças e por isso a Jhonson & Jhonson teve que pagar compensação milionária para pacientes com TEA nos Estados Unidos

Nas linhas a seguir, vamos tentar responder às perguntas mais comuns sobre o uso da risperidona em crianças autistas.

Risperidona e autismo: uma visão geral

Kanner descreveu o autismo em 1943. Naquela época não havia nenhum remédio para tratar sintomas de autismo.

Nessa época, a esquizofrenia era o termo médico no qual se encaixava o autismo e outras desordens neurológicas.

O antropólogo R. Grinker, professor da Universidade de Harvard e pai de Izabel uma menina autista, comenta o seguinte:

O trabalho dos psiquiatras naqueles tempos, foi limitada a separar os “loucos crônicos” da sociedade, trancá-los em lares de idosos e os pacientes mais violentos eram trancados nas células.

Essa realidade mudaria pouco até 1954, quando Smith, Kline e French introduziram a Thorazine o primeiro medicamento antipsicótico.

Antes disso, os médicos usaram hipnóticos como o paraldeído e hidrato de coral, estes eram misturados e o produto obtido era chamado de “Rio Verde”.

Esse produto não era metabolizado pelo fígado e os pacientes exalavam seu cheiro de frutas, o qual atrai moscas.

O que é a Risperidona?

A risperidona é um medicamento usado para tratar a psicose [Delírios e alucinações], em pacientes esquizofrênicos e agressividade em aqueles com transtorno bipolar.

Este antipsicótico, cujo nome comercial é Risperdal, foi criado em 1991 pela farmacêutica Janssen inc. Uma subsidiária da Johnson & Johnson.

A patente deste produto caducou em 29 de dezembro de 2007, isso deu liberdade de ação para produzi-la à diferentes empresas farmacêuticas, os produtos assim fabricados são denominados de segunda geração, genéricos ou antipsicóticos atípicos.

O uso da Risperidona nos Estados Unidos foi aprovado pela FDA em 1993 para o tratamento de sintomas da esquizofrenia.

Logo, no 2003 a FDA aprovou esse medicamento para controlar os breves ataques de violência associados com o Transtorno Bipolar

Finalmente, em 2006 a FDA aprovou também este medicamento para o tratamento da irritabilidade em crianças autistas entre 5 e 16 anos.

Risperidona no Brasil

Aqui na América do Sul, o Brasil é o primeiro país que autoriza o uso desse medicamento para tratar alguns sintomas das pessoas autistas, através do Sistema Único de Saúde [SUS] desde 2015.

Chama poderosamente a atenção, que apesar de ser um fato comprovado que este produto pode causar crescimento exagerado das mamas [Ginecomastia] em homens e por esta razão, Jhonson & Jhonson teve que pagar indenizações milionárias a pacientes americanos e ao próprio governo dos Estados Unidos.

Este efeito colateral não é mencionado pelo Ministério de Saúde, assessorado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologia [CONITEC], responsável pela sua aprovação legal, para o uso em pessoas com autismo em território brasileiro.

Como funciona a risperidona nas crianças autistas?

Todos os antipsicóticos, incluindo a risperidona, atuam modificando a forma como são transmitidas as informações entre as células individuais do cérebro.

Seja como for, os sintomas de psicose parecem ser consequência de uma atividade excessiva das células sensíveis aos neurotransmissores dopamina e serotonina.

Nesse sentido, a risperidona bloqueia os receptores de dopamina e de serotonina com a finalidade de reduzir a comunicação entre grupos de células.

Isso evita a atividade excessiva da dopamina e ajuda a controlar os sintomas da esquizofrenia e outros transtornos mentais.

Qual o benefício da Risperidona no tratamento do autismo infantil?

A Risperidona foi originalmente concebida para tratar os ataques de violência ou raiva nas pessoas esquizofrênicas adultas.

Seu único benefício está direcionado para acalmar os ataques de irritabilidade, violência ou autoagressão em pessoas com distúrbios neurológicos como;

  • Esquizofrenia
  • Transtorno bipolar
  • Autismo
  • Síndrome de Tourette e
  • Transtorno obsessivo-compulsivo

A ideia principal é que o paciente, medicado com essa droga, fique mais calma e tranquila na hora de assistir a sua escola e assim ter um melhor aproveitamento de suas aulas ou terapias.

No seguinte vídeo o Dr. Clay Brites da clínica NeuroSaber explica sobre o uso de medicamentos no autismo.

Dosagem do medicamento

A dosagem desta medicação está ligada intimamente na ação, que é relativamente complexa, da neurotransmissão, seja ela dá serotonina ou noradrenalina.

Por esse motivo, somente o médico psiquiatra pode receitar e informar a dosagem necessária para cada tipo de tratamento e paciente.

Assim, a dose prescrita varia de pessoa para pessoa, dependendo da condição a ser tratada.

Por exemplo:

Comprimidos

Os comprimidos são geralmente tomados uma ou duas vezes por dia, com ou sem alimentos.

Risperidona líquida

No caso da risperidona líquida, siga as instruções fornecidas com a bula para medir cuidadosamente uma dose.

O líquido pode ser tomado como está ou pode ser diluído com qualquer bebida não alcoólica, exceto chá.

Quando diluída dessa maneira, a mistura deve ser tomada imediatamente e não guardada para mais tarde.

Injeções de risperidona

No caso da injeção, ela deve ser administrada no músculo da nádega ou do braço, onde forma um reservatório de medicamento que é lentamente liberado na corrente sanguínea por um período de duas semanas.

Isso evita ter que tomar comprimidos todos os dias.

Quanto tempo demora para o risperidona fazer efeito?

Normalmente o efeito sedativo desse fármaco ocorre após 30-60 minutos. Por outro lado, o efeito antipsicótico ocorre após algumas semanas de uso contínuo.

Não obstante, tudo isso vai depender do organismo, da dose prescrita e do uso concomitante com outras medicações.

Quem está grávida pode tomar risperidona?

Se você está grávida ou planejando engravidar, você deve conversar com seu médico, que decidirá se você pode ou não tomar risperdal.

Agitação, rigidez muscular e/ou fraqueza, sonolência, agitação, problemas respiratórios ou dificuldade na alimentação, podem ocorrer nos recém-nascidos de mães que usaram risperdal no último trimestre de sua gravidez.

Este medicamento não deve ser utilizado por mulheres grávidas sem orientação médica ou do cirurgião-dentista.

Qual a idade para ser medicado?

Até hoje, só a risperidona [Risperdal] e aripiprazol [Abilify], foram aprovados pela FDA para tratar a raiva, agressão, autoagressão em crianças com autismo.

Esta instituição recomenda que esses medicamentos devem ser usados nas crianças na faixa etária de 5 a 16 anos.

Porém, diferentes medicamentos são usados para tratar sintomas do autismo, ainda que legalmente não estejam autorizados para essa finalidade.

O médico clínico pode prescrever medicamentos não especificados para o TEA, baseado na sua própria experiência, ao tratar pacientes com sintomas similares ao autismo.

Na prática, a idade, na qual a criança começa a ser medicada, no Brasil, por exemplo, varia muito, quanto a idade e tempo de medicação.

 Algumas experiencias

A experiência da jornalista Andréa Werner Bonoli, mãe de Theo, possivelmente resume o caso de muitas famílias.

Resolvemos tentar medicação com Theo quando ele estava com 4 anos. Na época, ele apresentava muita hiperatividade e tinha birras muito fortes e duradouras.

Iniciamos com o Abilify por indicação de um psiquiatra
Mesmo com a dose inicial bem pequena, nos primeiros três dias, parecia um milagre! Theo parou com os movimentos repetitivos e até o “iiiihhh” sumiu.

Após os primeiros três dias, o efeito foi sumindo e o médico mandou aumentar a dose. E, aí, foi o inferno: Theo ficou hiper agitado, parecia possuído.

Depois disso, desistimos do Abilify. Após ele, tentamos Esquidon [um similar à Risperidona], Risperdal comprimido e Risperidona líquida. E nada dos tais benefícios aparecerem.

A única coisa que a Risperidona nos trouxe pra ele foi uma fome incontrolável, que nos forçava a ter que trancar a cozinha durante o dia.
Depois veio o Neuleptil. Esse, além de não trazer benefícios, piorou a hipotonia do Theo [ele passou a babar]. E, ao aumentarmos a dose, vinha o famoso “efeito rebote” e ele ficava possuído de novo.

Por fim, tentamos o Neozine. Pareceu controlar um pouco a hiperatividade e só. Ficamos com ele por quase um ano, até a mudança pra Londres. Foi onde notamos que ele não fazia mais efeito nenhum e resolvemos tirar. Atualmente, Theo só toma Melatonina na hora de dormir.

Quais são os efeitos colaterais?

Os efeitos colaterais que podem ocorrer como resultado de ser medicado com risperidona segundo a FDA seguem nas linhas abaixo.

No curto prazo:

  1. Insônia
  2. Náusea
  3. Ansiedade
  4. Tontura
  5. Hipotensão
  6. Rigidez muscular
  7. Dor muscular
  8. Tremores
  9. Sedação
  10. Aumento da salivação,
  11. Ganho de peso e
  12. Dificuldade de raciocínio

Os efeitos em terapias de longo prazo:

  1. Transtorno extrapiramidal
  2. Dor de cabeça
  3. Inflamação da membrana da mucosa nasal
  4. Arritmia cardíaca
  5. Galactorreia
  6. Ginecomastia [desenvolvimento excessivo da glândula mamária no homem]
  7. Atrofia cerebral e
  8. Disfunções ejaculatórias e erétil

De todos estes 20 efeitos colaterais, talvez a Ginecomastia é um dos mais controversos em pacientes do sexo masculino.

Ginecomastia o que é?

Quando a criança é medicada com a risperidona, esta pode causar um aumento da hormona prolactina.

O excesso deste hormônio pode induzir a produção de leite nas crianças femininas, fenômeno conhecido como Galactorreia.

No caso dos homens, produz um aumento exagerado das mamas, o qual é chamado de Ginecomastia.

A este respeito, Andreia Morelhato diz o seguinte:

É verdade. Meu filho usou três anos, não aparecia nenhum efeito colateral.

De repente em um mês engordo 6 quilos e começo a aparecer maminhas inchadas. E atacou a tiroide. Graças a Deus foi retirado e com tratamento da tiroide está voltando ao corpo normal.

Do outro lado da moeda, Gahan Pandina, diretor sênior de Jannsen Researh and Development.

Menciona que o uso de Risperidona no autismo é:

“um compromisso entre os benefícios que você espera e os riscos para o paciente específico”.

Risperidona Autismo: Julgamentos nos Estados Unidos

Em 2012 J&J acordou pagar 2,2 bilhão de dólares para dar por terminado um julgamento e declarar-se culpado perante o Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

O governo norte-americano acusava a Jhonson & Jhonson da promoção ilegal do Risperdal entre os anos 1999 e 2005.

Aquele acordo, foi dividido entre o governo federal e vários estados, esse foi o mais longo desse gênero na história desse país.

Essa investigação do governo americano revelou que J&J subornou com incentivos econômicos a diferentes doutores para que recomendaram risperdal a seus pacientes.

Por outro lado, J&J também foi demandada em diferentes estados norte-americanos pelos efeitos colaterais da risperidona e práticas inadequadas de marketing.

Por exemplo, o estado da Carolina do Sul demandou a J&J por práticas inadequadas de marketing no seu território. Neste litígio, J&J perdeu o ato judicial e o juiz ordenou uma multa econômica de 327 milhões de dólares.

Logo, a farmacêutica informou que alcançou outros acordos por separado com os estados de Texas em 2012 e Montana em 2014 por 158 e 5,9 milhões de dólares respectivamente.

Aron Banks

Aron Banks foi medicado com risperdal a idade dos 9 anos, apesar de que aquele fármaco ainda não estava aprovado para seu uso em crianças. Ele teve um crescimento das mamas [Ginecomastia] e posteriormente precisou de cirurgias para tirá-los.

Aron também experimentou uma rápida ganancia de peso e sofreu danos no seu sistema endócrino.

Em concordância com esses traumas físicos, A. Banks reclamou que o risperdal também causou nele traumas psicológicos.

Em setembro de 2012, Jhonson & Jhonson alcançou um acordo para fechar aquele caso jurídico no mesmo dia que foi iniciado em uma corte de Philadelphia.

Nesse acordo, Banks e seus advogados não poderiam revelar a quantidade de dinheiro recebida para arquivar o caso.

Austin Pledger

Em fevereiro de 2015, Austin Pledger converteu-se na primeira vítima a ganhar um juízo a J&J, já que o juiz do seu caso, falhou a seu favor.

Pledger desenvolveu mamas em excesso na sua adolescência, depois que começou a ser medicado com Risperdal, isso na idade de 8 anos.

Austin Pledger foi indenizado com 2,5 milhões de dólares depois de que o juiz declarou culpada a J&J por ter omitido as advertências necessárias sob o risco de causar ginecomastia em homens.

Tim Stange

O terceiro caso que iniciou em 15 de outubro de 2015 envolve Tim Stange, quem tomou Risperidona desde 2006 até 2009.

Este constitui-se no primeiro caso, levado nos estrados judiciais no qual o demandante começou a ser medicado com Risperdal depois do que a FDA autorizou o uso deste medicamento em pacientes autistas.

Neste caso J&J foi condenada a pagar uma indemnização de 500.000,00 dólares americanos.

Nicholas Murray

Neste caso, o juiz encontrou em Nicholas Murray um desenvolvimento das mamas em excesso depois de começar a ser medicado por cinco anos com risperdal na sua adolescência.

O juiz determinou que J&J não advertiu adequadamente o perigo de ginecomastia e ordenou uma indemnização a Nicholas Murray de 1,7 milhões de dólares.

Perguntas Frequentes

Quais os efeitos colaterais da risperidona?

Efeitos colaterais
Vômito, constipação, boca seca, náusea, hipersecreção salivar. Fadiga, febre, sede. Nasofaringite, rinite, infecção do trato respiratório superior. Aumento de peso e de apetite.

Por qué autistas toman risperidona?

O uso da Risperidona nos casos de Autismo é indicado para contenção de comportamentos de hiperatividade e agressividade, bem como reduzir a hiper-reatividade afetiva [explosões de raiva e irritabilidade] às situações de estresse do ambiente.

Qual melhor remédio para autista?

Quando o autista – em especial, crianças e adolescentes – apresenta comportamentos agressivos, o medicamento mais indicado é a risperidona.

Existe medicação nova para o autismo?

Os dados indicam que entre 30 a 90% das pessoas autistas, têm quadros de má digestão, o que levou a uma investigação mais detalhada do autismo e transtornos alimentares.

Sendo a síndrome do intestino permeável, um dos principais fatores que podem causar autismo.

Portanto, uma dieta equilibrada livre de glúten, torna-se um bom começo para acalmar, ou eliminar alguns sintomas de doenças dentro do espectro autista.

Por outro lado, os alimentos probióticos, tem-se reconhecido, como uma ótima forma de tratar diferentes doenças e transtornos como o autismo.

Presume-se que as doenças, têm sua origem numa desregulação da população dos microrganismos em nossos intestinos.

Os probióticos visam regular a microflora e a fauna em nosso intestino, para assim tudo volte à normalidade.

Mas, como o médico disse:

Não existe uma medicação para tratar a criança autista, é preciso tratar o que está desregulado nessa criança.

O que começou como uma dificuldade de dormir, pode passar para uma ansiedade extrema, depois para manias… e tem que tratar cada uma das comorbidades que aparecem junto com o autismo.

Nesse propósito, tem que procurar todas as terapias, medicina natural, etc, sendo a medicação um complemento mais, na procura de soluções para os problemas da criança dentro do espectro autista.

Lembre-se que o autismo pode não ter cura, porém ele não torna o nosso filho incapaz de aprender e de se desenvolver, o nosso filho só precisa ser estimulado da maneira correta.

Referências

R. Grinker. 2007. Unstrange Minds

MedlinePlus-Risperidona. Acessada em 15/05/2017.

Drugwath.com: Drug Side Effects, Interaction & Lawsuit Information. acessada em 16/05/2017.

Risperdal Verdicts & Settlements – Marketing, Personal Injury & Trial.

Chris Helking. 2015. Johnson & Johnson to Pay $1.75 Million Risperdal Lawsuit Verdict

Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias. 2014. Risperidona no Transtorno do Espectro do Autismo [TEA].

Tercera sentencia condenatoria consecutiva en los EE.UU. por ocultar los efectos adversos del Risperdal.

ClickNews. 2006. Especialistas falam sobre a risperidona injetável no tratamento da esquizofrenia.