SÍNDROME DE RETT: Essa síndrome é um transtorno neurológico que afeta quase exclusivamente a mulheres no mundo tudo.
Clinicamente é caracterizada por a perda progressiva das funções neurológicas e motoras depois de um tempo aparentemente normal.
Aqui no Brasil, os primeiros casos da síndrome de Rett foram publicados pelo Dr. Sérgio Rosenberg em 1986.
História da Síndrome de Rett
Andreas Rett [1925-1997]
Em 1954 o pediatra austríaco Andreas Rett observo na sala de espera do seu consultório, duas pacientes, as quais apresentavam sintomas muito parecidos.
Revisando seus arquivos, verificou que tinha registrado ainda seis meninas a mais, semelhantes a aquelas duas que tinha observado.
Ele observou que aquelas meninas apresentavam um padrão peculiar de expressão do desenvolvimento neurológico após um período do desenvolvimento aparentemente natural durante os primeiros dois anos.
Essas meninas apresentavam especialmente desaceleração do crescimento do perímetro cefálico e perda do uso funcional das mãos e de habilidades comunicativas [linguagem é interação social].
Todas elas desenvolviam movimentos manuais estereotipados incomuns [como bater ou esfregar as mãos].
Com essas observações devidamente registradas, o Dr. Rett participou de diversos encontros científicos, com o objetivo de conhecer se outros colegas tinham pacientes similares às que ele havia observado.
Bengt Hagberg [1923-2015]
Mais ou menos na mesma época, outro médico pediatra chamado Bengt Hagberg de Göteborg, Suécia.
Também começava a observar meninas que apresentavam padrões comportamentais bastante similares.
O Dr. Hagberg documentou cuidadosamente os seus casos, preferindo incluir as crianças que havia observado num grande grupo de crianças com deficiência mental e motora inespecífica.
No final da década de 1970, Andréas Rett e Bengt Hagberg se encontraram casualmente durante um encontro científico realizado no Canadá.
Aquele encontro permitiu o desenvolvimento do primeiro relato em língua inglesa amplamente divulgado para a comunidade científica, o qual foi publicado em 1983 no periódico Annals of Neurology.
Foi nessa ocasião que a desordem já reconhecida e documentada pelos dois médicos europeus recebeu, pela primeira vez, a atenção que merecia dos médicos e pesquisadores americanos.
Nos anos seguintes a síndrome de Rett passou, a ser amplamente diagnosticada em todo o território dos Estados Unidos, e o Instituto Nacional de Saúde [NIH] começou a se interessar seriamente em apoiar programas de pesquisa envolvendo essa síndrome.
Síndrome de Rett é Autismo?
A nível mundial, os manuais usados para a classificação dos transtornos mentais, pelos professionais da saúde, são dois:
- Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais [DSM] Da Associação Americana de Psiquiatria [AAP].
- Classificação Internacional das Doenças [CIE] Da Organização Mundial da Saúde [OMS].
A síndrome de Rett foi incluída nos Transtornos do Espectro Autista (TEA) em 1994 na quarta publicação do DSM.
Logo após foi excluída do espectro autista, na publicação do DSM V em 2013.
Essa síndrome, também foi incluída na CIE-10 em 1992 dentro dos Transtornos Generalizados do desenvolvimento [TGD].
No julho deste ano, a OMS lanço a versão beta da CIE-11, nela, a síndrome de Rett, também foi retirada do espectro autista.
Atualmente e considerada uma doença única que não tem relação com o espectro autista.
Saiba mais:
Causas da Síndrome de Rett
A síndrome de Rett é uma doença associada a “modificações” no gene MECP2 [ methyl-CpG-binding protein 2], no cromossomo X.
O MECP2 é de extrema importância no controle de outros genes, e a proteína por ele codificada atua como que “desligando” determinados genes durante fases específicas do desenvolvimento neuronal.
A base molecular da síndrome de Rett consiste no fato de o gene MECP2 “modificado” codificar uma proteína defeituosa, incapaz de exercer adequadamente sua função biológica.
Isso faz que os genes que deveriam estar “desligados” durante determinadas fases do desenvolvimento dos neurônios permaneçam “ligados”, resultando em prejuízos ao desenvolvimento do sistema nervoso central.
Cerca de 99,5% dos casos da síndrome de Rett são esporádicos, ou seja, sem antecedentes familiares.
A análise da origem parental [dos pais] nos casos esporádicos revelou que, na maioria deles, as mutações ocorreram de novo no alelo de origem paterna.
Isso explicaria a predominância de síndrome de Rett clássica em meninas, já que os meninos não herdam o cromossomo X paterno, mas sim o materno.
Por outro lado, nos raros casos familiais [somente 0,5%], o alelo “modificado” é proveniente da mãe, que não apresenta o quadro clínico de síndrome de Rett.
Esses casos poderiam ser explicados: [1] pela inativação favorável do cromossomo X da mãe que tem a mutação; ou [2] pela ocorrência de mosaicismo gonadal, quando o alelo mutado [modificado] é encontrado apenas nas células da linhagem germinativa materna.
Epidemiologia da Síndrome de Rett
Há ampla variação na incidência da síndrome de Rett nos diferentes estudos publicados em diferentes países.
A maior parte dos trabalhos reporta um caso de síndrome de Rett a cada 10.000 meninas nascidas vivas.
- Nos Estados Unidos, reporta-se a incidência de uma em cada 23.000 meninas nascidas vivas.
- Estudo realizado no Japão encontrou uma menina com síndrome de Rett em cada 45 mil meninas com idades entre 6 e 14 anos.
Essa variação na incidência da síndrome de Rett pode ser devida à inclusão de formas variantes ou atípicas, que incluem a síndrome de Rett congênita, formas mais leves, com manifestação tardia de regressão, e variantes com fala preservada.
Não há diferenças entre raças no que concerne a incidência e à prevalência da síndrome de Rett.
A grande maioria dos pacientes identificados é do sexo feminino, já que a doença é ligada ao cromossomo X.
Acredita-se que muitos fetos do sexo masculino com a síndrome de Rett morram no útero, durante a gestação [abortos espontâneos].
No entanto, alguns estudos relatam meninos com mutações no gene MECP2 e sintomas parecidos com os da síndrome de Rett [quadro conhecido como síndrome de Rett-like].
Geralmente, a síndrome de Rett se manifesta clinicamente por volta dos 2 a 4 anos de idade.
Porém, os prejuízos ao desenvolvimento neurológico já estejam provavelmente presentes entre 6 e 18 meses de idade.
Quadro Clínico da Síndrome de Rett
A síndrome de Rett se manifesta tipicamente no período compreendido entre os 6 a 18 meses de vida.
Na grande maioria dos casos, a gravidez da mulher e o parto ocorrem normalmente.
Os bebês nascem geralmente sem quaisquer intercorrências, e parecem se desenvolver dentro dos parâmetros normais na primeira infância.
Geralmente, apresentam padrões adequados de desenvolvimento motor no que se refere ao sentar-se e ao andar.
Todavia, são raros os relatos de crianças que vieram a receber o diagnóstico de síndrome de Rett que tenham engatinhado em qualquer fase da infância.
Muitas dessas crianças também desenvolvem linguagem inicial na forma de palavras ou frases simples.
Durante esse período precoce de vida, desaceleração nas medidas da circunferência da cabeça, pode ser observada já aos três meses de idade, mas sempre ao longo do primeiro ano.
Deve-se enfatizar que a desaceleração do perímetro cefálico não significa necessariamente microcefalia [ou cabeça anormalmente pequena].
Por outro lado, o perímetro cefálico de muitas dessas meninas pode se manter dentro dos parâmetros normais.
Também se observa desaceleração do ganho de peso nesse período.
Pode ocorrer, igualmente, desaceleração do crescimento linear [comprimento], mas apenas depois do primeiro ano de vida.
Diagnóstico Clínico da Síndrome de Rett
O diagnóstico da síndrome de Rett, especialmente em sua forma clássica, ainda é eminentemente clínico.
Ou seja, o exame laboratorial para pesquisa do MECP2 ou de alterações em outros genes ainda em estudo que só tem valor de fato diagnóstico nas formas não clássicas da doença.
Critérios para o Diagnóstico Clínico da Síndrome de Rett
Os critérios específicos para o diagnóstico da síndrome de Rett vêm sendo propostos ao longo das últimas três décadas.
O consenso mundial mais recente publicado por Hagberg em 2002 tem permitido que esse diagnóstico seja realizado em todo o mundo de uma maneira mais padronizada.
Critérios necessários
Eles devem estar presentes nos pacientes:
- Normal ao nascimento;
- Desenvolvimento precoce aparentemente normal [pode estar atrasado ao nascimento];
- Desaceleração do perímetro cefálico pós-natal;
- Falta de habilidades manuais funcionais adquiridas;
- Regressão psicomotora: aparecimento de desinteresse social, disfunção comunicativa, perda de palavras aprendidas, comprometimento cognitivo;
- Movimentos estereotipados das mãos: lavar, torcer, esfregar, apertar, bater as mãos, levar as mãos à boca, e
- Disfunção de marcha: locomoção prejudicada [dispráxica] ou ausente.
Critérios Auxiliares
Esses podem estar presentes em alguns pacientes e em outros não:
- Ausência ou redução das habilidades manuais
- Redução ou perda da fala em balbucios
- Perda ou redução das habilidades comunicativas
- Desaceleração do crescimento cefálico nos primeiros anos de vida
- Padrão monótono de estereotipias manuais
- Irregularidades respiratórias
- Bruxismo
- Escoliose/cifose
- Resposta diminuída para dor
- Episódios de risada/gritos
Após o período precoce de regressão, o desenvolvimento parece estabilizar [não avança, mas não regride], embora haja evidente melhora na interação e na socialização, particularmente no que se refere a escolhas, assim como também melhora o contato visual.
Por outro lado, é também após esse período de regressão que podem aparecer as convulsões.
Também podem se intensificar as anormalidades respiratórias, que atingem o seu ponto máximo na idade escolar, até que se atinja a adolescência.
A partir dessa fase da vida, atividades motoras como as estereotipias manuais se tornam menos frequentes, e sua manifestação geral parece ser reduzida.
O fato de não haver mais perdas cognitivas a partir daí é o que fundamenta fortemente a importância de terapias continuadas que otimizem as capacidades comunicativas e de socialização e que preservem as funções motoras.
Existe tratamento para a síndrome de Rett?
Até este momento, a síndrome de Rett é uma condição para a qual ainda não há cura ou tratamento para as manifestações clínicas subjacentes.
No entanto, há muitas intervenções que pode ajudar essas pacientes a ter um ciclo de vida significativamente mais saudável.
A avaliação e o tratamento dessas pacientes são bastante complexos, motivo pelo qual o tratamento clínico multidisciplinar é fundamental.
Como as manifestações clínicas podem ser muito diferentes de uma menina para outra em termos de intensidade e gravidade, ainda não foi possível estabelecer diretrizes consensuais para o tratamento da síndrome de Rett.
Na data 23 de fevereiro de 2007 o Dr. Adrian Bird e sua equipe da universidade de Edimburgo, Escócia, fizeram pesquisas com camundongos demonstrando que os sintomas da síndrome de Rett são reversíveis.
Esta pesquisa consistiu basicamente em usar uma linhagem de camundongos geneticamente modificados nas quais foi insertado um segmento de DNA na região do gene MECP2, então aquele gene teve sua expressão interrompida em consequência disso aqueles animais desarrolharam os sintomas característicos da síndrome de Rett.
A remoção desse pedaço de DNA foi induzida com injeções de uma droga chamada tamoxifeno e depois de algumas semanas elas deixaram de apresentar os sintomas.
Aquela pesquisa preliminar, ainda precisa de mais estudos, até chegar a ser testada em seres humanos.
A pesar disso, os resultados obtidos por este time de cientistas, indicam que existe possibilidades de cura de esta doença.
Considerações
O fato de que a síndrome de Rett, não seja mais considerada dentro do espectro autista, não significa que se haja curado.
Pelo contrário, pode até ser negativo nos primeiros anos, pois fica um vazio legal nesse tema, em relação as assistências sociais que recebem em determinados países.
Para ter acesso a estes benefícios, precisa se ter um laudo médico que indica qual a doença que tem um determinado paciente.
Atualmente ser diagnosticado como autista, significa ter maior e melhor assistência social em relação a outras doenças neurológicas, segundo R. Grinker, antropólogo americano, pai de Isabel uma menina autista.
Sobre estas dúvidas em relação a estas mudanças, dependendo de onde você estiver os seguintes links podem ser de grande utilidade:
- Associação brasileira da síndrome de Rett
- Também a Associação Argentina da síndrome de Rett, pode ser grande utilidade
- Na Europa – Associação espanhola da síndrome de Rett
- Nos Estados Unidos a RettSyndrome.org pode te ajudar
Meu bom amigo/a, por favor me ajude a espalhar esta informação compartilhando-a nas tuas mídias sociais.
Referências
Wikipedia. Síndrome de Rett. https://es.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADndrome_de_Rett. Acessada em 15/03/2017.
Síndrome de Rett: O que é, causas, sintomas, pesquisas. http://www.bengalalegal.com/rett. Accesada en 19/03/2017.
N. M. Blanco; V.R. Manresa; G.S. Mesh. 2006. Síndrome de Rett: critérios diagnósticos. http://med.unne.edu.ar/revista/revista153/6_153.pdf. Acessada em 14/03/2017.
R.R. Grinker. 2007. Unstrange Minds.
Hagberg B, Hanefeld F, Percy A, Skjeldal O. Update on clinically applicable diagnostic criteria in Rett syndrome. Comments to Rett Syndrome Clinical Criteria Consensus Satellite to European Pediatric Neurology SOciety Meeting. Baden Baden, Germany. 11 Sptember 2001. European Journal of Neurology 2002; 6:293-7.