ESPECTRO AUTISTA: Pesquisadores da Universidade britânica de Warwick desenvolveram um novo teste de sangue que promete detectar espectro autista com um nível de precisão de 92%.

Publicado recentemente na revista Molecular Autism, o teste é considerado pioneiro e os cientistas esperam que com o diagnóstico precoce, as crianças recebam atenção e cuidados adequados mais cedo.


“Nossa descoberta pode levar a um diagnóstico e intervenção mais precoce. Esperamos que os testes também apontem caminhos para novas causas”, disse ao Medical News Today uma das líderes do estudo, Naila Rabbani, da Universidade de Warwick.

Desenvolvimento do teste para a detecção do espectro autista

Para o desenvolvimento do exame, os pesquisadores coletaram e analisaram amostras de sangue e urina de 38 crianças com idade entre 5 e 12 anos, que haviam sido diagnosticadas com o distúrbio, bem como de 31 crianças que não tinham o diagnóstico.

Os resultados mostraram que as crianças com espectro autista apresentaram níveis mais altos de uma substância chamada ditrosina de oxidação [DT] e de outra classe de compostos, modificados com açúcar, conhecidos como produtos de glicação avançada [AGEs].

A partir disso, os cientistas, então, usaram esta informação em um algoritmo de computador, resultando em um teste de diagnóstico com 92% de sensibilidade.

Com esta forma de detecção, é possível diagnosticar o problema em crianças entre os 18 e 24 meses de idade, ao contrário dos testes anteriores que apenas conseguiam identificar o problema a partir dos 4 anos de idade.

Espectro autista: Aspectos gerais

O autismo é um grupo de transtornos do desenvolvimento cerebral, aos que se chama coletivamente os Transtornos do Espectro Autista [TEA].

O termo Espectro refere-se à ampla gama de sintomas, habilidades e níveis de deterioro ou incapacidade que podem ter as crianças com TEA. Algumas crianças podem apresentar um deterioro leve nas suas habilidades enquanto outras podem ficar gravemente descapacitadas.

De acordo com o Instituto Nacional de Saúde Mental [NIMH] dos Estados Unidos o espectro autista é um distúrbio com diferentes níveis de comprometimento, porém três são considerados mais comuns:

  1. Dificuldade com comunicação e interação com outras pessoas,
  2. Interesses restritos e comportamentos repetitivos e
  3. Sintomas que prejudicam a capacidade da pessoa de funcionar adequadamente na escola, no trabalho e em outras áreas da vida

As crianças dentro do espectro autista não seguem os padrões típicos de desenvolvimento das suas habilidades sociais e de comunicação.

Em geral, são os pais os primeiros em perceber comportamentos estranhos em seus filhos.

Por outro lado, certas condutas se volvem mais notórias ao comparar-se com crianças da mesma idade.

Dessa forma, um exame que possibilite descoberta precoce é considerado um avanço, mas, para Alysson Muotri, do Departamento de Pediatria e Medicina Molecular, da Universidade da Califórnia em San Diego, deve ser visto com algumas ressalvas.

Diagnostico do espectro autista

“O diagnóstico é clínico e costuma demorar porque os sintomas podem ser mascarados por atrasos no desenvolvimento, desinformação, inexperiência clínica, resistência dos pais e pela variabilidade da intensidade dos sintomas […]. Apesar de interessante, o trabalho é apenas um primeiro passo na busca de um biomarcador”, explica Muotri.

O especialista ainda adverte que o número de crianças no estudo é baixo e que muito possivelmente, em uma cobertura maior, o teste irá apresentar um percentual de falso-positivos muito grande.

“Isso acontece por conta da heterogeneidade do transtorno. É difícil acreditar também que um único tipo de exame consiga detectar os diversos tipos de autismo que existem”, explica Muotri.

Outra crítica feita por diversos especialistas ao exame da Universidade de Warwick é que a análise foi derivada de crianças com idades entre 7 e 8 anos.

Porém, a terapia precoce [nos primeiros dois anos] tem um efeito maior na qualidade de vida e independência do indivíduo. No que diz respeito a isso, contudo, os pesquisadores já sinalizaram que pretendem repetir o estudo com outros grupos de crianças para apurar a eficiência do teste.

Referencias

Attia Anwar † , Provvidenza Maria Abruzzo † , Sabah Pasha , Kashif Rajpoot , Alessandra Bolotta , Alessandro Ghezzo , Marina Marini, Annio Posar, Paola Visconti , Paul J. Thornalley e Naila Rabbani. Produtos de glicação avançada, disfunção de ditirosina e transportador de arginina no autismo – uma fonte de biomarcadores para o diagnóstico clínico. 2017.